Já fazia tempo que eu não me apaixonava pra valer, mas, no último mês de setembro, aconteceu. Vivi sensações intensas tendo a sorte de poder prolongá-las ao meu bel prazer. Atingi não sei quantos clímax e perdi a conta dos suspiros nascidos dessa felicidade. Entreguei-me a uma história conduzida com maestria e não foram poucas as vezes em que pensei em largar tudo para me dedicar somente a ela. Minha cabeça, minha alma e meu coração se tornaram reféns cativos do Corpo Estranho e incrivelmente perturbador criado pela escritora Adriana Lunardi.
Para mim, não há nada melhor do que me entregar aos textos e contextos descritos por autores que têm na poesia e no amor pela palavra o seu fundamento máximo de trabalho. E é assim com Adriana Lunardi. E também é assim com outra Adriana, a Lisboa. Escritora para a qual eu também tiro o chapéu, o boné e a boina.
O fato é que ter descoberto Adriana Lunardi nesta Primavera que começou tão fria em São Paulo foi um deleite. Uma espécie de delírio suficientemente forte para me manter aquecida. E, como acontece sempre que me apaixono, entrei em estado prolongado de êxtase. Meus olhos estão mais brilhantes, meu coração mais acelerado, meus sentidos aguçados.
Já experimentei grandes amores literários. O primeiro foi aos 15, com Machado de Assis. O Bruxo do Cosme Velho me enredou em suas linhas e entrelinhas para sempre e, ainda hoje, tenho palpitações quando folheio qualquer coisa que ele tenha escrito. Depois, veio Gabriel García Márquez, seguido de Manuel Bandeira. Na seqüência, tive vários amantes, é verdade, mas nada tão significativo quanto meu encontro com Jorge Luis Borges. Flutuo sem paradeiro só de ouvir o nome do criador deFicções… Cheguei a pensar que nunca mais sentiria algo tão forte, até que surgiram João Guimarães Rosa e Adélia Prado. Outros desses amores que, julgo, serão eternos.
E agora vem Adriana Lunardi. E mal posso esperar para ler Vésperas e As meninas da torre Helsinque – seus dois livros anteriores, muito festejados pela crítica e já traduzidos em vários idiomas, inclusive o croata. Não me estenderei sobre a trama de Corpo Estranho. Isso você pode ler clicandoaqui ou em vários outros textos disponíveis na internet. O que eu queria mesmo era falar de paixão, de amor, e do modo como tudo isso está, a meu ver, conectado ao reino das palavras. Adriana Lunardi foi agraciada com o dom de usá-las com profundidade e poesia. Um feito raro. E sempre que deparo com raridades de magnitudes estelares, me permito falar menos e sentir mais.
E como todo amor que se preze tem a sua música…