Na última quarta-feira perdemos Khadija, a cachorrinha do meu filho. A esperta vira-latas vivia no Sul de Minas, na casa da minha sogra. Lá, além de amor, desfrutava de mais espaço e liberdade – como tem de ser. Aos nove anos, era considerada uma idosa para o universo canino. Mas saber disso não traz nenhum alento. Queríamos mais é que fosse eterna, desejo que se repete com tudo e todos a quem amamos.

No mesmo dia perdi, ainda, o primeiro ídolo musical da minha infância. O cantor espanhol Manolo Otero, por quem me apaixonei perdidamente durante fase madura e altiva que coincidiu com a terceira-série primária. Lembro de que infernizei meu pobre pai durante semanas, até que ele se rendeu e me presenteou com o disco do charmosíssimo galã romântico. Nunca entendi como aquele vinil não furou na faixa que continha a canção Vuelvo a ti, que eu ouvia umas duzentas vezes por dia.

É fato: criaturas queridas morrem ou simplesmente vão embora; casas se deterioram ou são demolidas; árvores nas quais subíamos na infância são arrancadas devido à expansão imobiliária e escolas guardam de nossa passagem apenas a cópia amarelada de um histórico cujas notas jamais poderão traduzir as descobertas, alegrias, decepções e sonhos vividos ali.

Ao fim de tudo, o que resta? O que fica? O que não se perde? Sentimento. Memória. História. Por isso escrevo, registro, conto. E ressalto: o ponto final não passa de um bobo sinal gramatical.