Rua charmosa que fotografei em Edimburgo, em 2007.
Essa semana sonhei que estava na Escócia passeando por Edimburgo numa noite cálida de Verão. Já era madrugada nas terras altas, mas, em meu sonho, o sol ainda brilhava, encantando tanto turistas quanto a população local. Os cafés e pubs estavam lotados e uma alegria literalmente onírica podia ser vista sob a forma da luz extraordinária que emanava do rosto e do sorriso de todos.
Em meio a essa atmosfera, me vi de mãos dadas com um adolescente que não devia ter mais de 16 anos. O rapaz tinha a pele clara, aspecto sisudo e cabelos castanhos. De repente, como só acontece em sonhos, ele virou “Ela”. E assim, o jovem de feições circunspectas se transformou em uma mocinha pequena, também de pele clara, de cabelos curtos e cílios longos. E é fundamental destacar que todos os seus pelos tinham um tom ruivo absolutamente perturbador. Seus olhos, nariz e boca eram delicados e feminis, contrastando com seu jeito um pouco masculinizado de andar e de se vestir. E entre o cabelo vermelho e a camiseta verde escura da minha cicerone o que se via era um pescoço perfeito – como que esculpido por um gênio da renascença italiana. O conjunto da obra era arrematado pela leveza característica do estado de espírito da moça, felicíssima por poder me mostrar as delícias de uma Edimburgo que só ela parecia conhecer.
Como não poderia ser diferente, me deixei levar por suas mãos de fada. Mãos de uma suavidade quente e maternal, do tipo cujo calor penetra em nossa pele viajando pelas veias na velocidade da luz, até que explode em ternura ao chegar ao coração. Ela não me disse seu nome e eu tampouco perguntei. E acredito que essa ausência de apresentações se deva ao fato de que nos sonhos o que importa é o prazer que se vive e não a identidade que se tem.
E nesse cenário, tomadas por uma sensação mágica, seguimos por entre ruas, becos, lojinhas, cafés e restaurantes. Ambientes que primavam pela beleza e também pela decoração aconchegante, sempre repleta de flores e objetos dignos de quadros impressionistas. Lembro que a última parada do sonho foi numa loja que vendia os souvenirs mais lindos do mundo. Ali mesmo, nos posicionamos à frente de um pequeno aquário que pertencia à proprietária do local, uma senhora simpática e afável. Três peixinhos dourados, com listras pretas, esbanjavam vivacidade no espaço ínfimo que possuíam para se exibir. Mergulhei os olhos no colorido dos bichinhos e, em meio à infinita simbologia da água, o passeio e o sonho chegaram ao fim.
Acordei com uma sensação de extrema felicidade, dessas que só costumam nos acometer em duas ocasiões distintas: na infância (sem que seja preciso nenhum motivo especial) e já na fase adulta, quando se vive a iminência de um novo amor/paixão. E por isso mesmo, aquela Edimburgo noturna e solar, assim como a moça pequenina dos cabelos e cílios de fogo, hão de viver pra sempre no meu coração e na minha memória. Lugares que dispõem de um espaço grande e confortável, especialmente projetado para abrigar as aventuras que vivo no fantástico mundo dos universos paralelos.
Goimar Dantas
São Paulo
16-01-09