O escritor Marcelino Freire, pernambucano radicado em São Paulo desde o começo da década de 90, é um dos mais entusiasmados agitadores culturais da cidade. É também autor de diversos livros, dentre eles, Contos negreiros, Prêmio Jabuti 2006 na categoria Contos, e os ótimos Angu de Sangue e EraOdito, marcados pela narrativa crítica e original. E na última quarta-feira, 16, Freire me concedeu entrevista essencial para meu novo livro Rotas literárias de São Paulo.

Organizador da Balada Literária, que há cinco anos reúne tanto grandes nomes quanto revelações da literatura em evento realizado na Vila Madalena, em São Paulo, Freire é uma dessas pessoas que parece ter o dom da onipresença. Desde que chegou à pauliceia desvairada, o escritor trabalhou duro, bateu em mil portas, editou seus primeiros livros e, todas as manhãs, peregrinava pelas livrarias oferecendo-os aos livreiros.

Aos poucos, foi conquistando leitores e a admiração dos profissionais do ramo editorial e livreiro. José Luiz Goldfarb, curador do Prêmio Jabuti e ex-proprietário da famosa livraria Belas Artes – e a quem entrevistei há algumas semanas -, costuma dizer que os autores que mais vendeu em seus tempos de livreiro foram Freire e Paulo Coelho. “Ambos iam à Belas Artes oferecer seus primeiros livros que, na época, eram editados por eles mesmos. E eu vendia horrores. Lembro que eu ligava pro Marcelino e dizia: traga mais exemplares porque o que eu tinha aqui já acabou”.

Graças ao seu talento, trabalho e perseverança, Freire é uma das poucas pessoas que conseguem, hoje, viver de literatura no Brasil. Está sempre recebendo convites para ministrar palestras, oficinas, organizar e participar de debates e cursos. Também colabora divulgando e prestando consultoria a uma série de eventos ligados ao mundo das letras.

Em cerca de uma hora e meia de conversa, regada a café para ele e chá de hortelã para mim, Freire discorreu sobre as diferenças entre Recife e São Paulo, bem como suas primeiras impressões e dificuldades logo que chegou à capital paulista. Mais do que isso, detalhou sua saga para se firmar no concorrido mercado literário, revelou seus livros e autores preferidos e, como não poderia deixar de ser, contou quais rotas literárias frequenta/frequentou. Para meu espanto, falou até mesmo sobre uma certa preguiça que jura possuir, mas de cuja existência, confesso, duvidarei para sempre.

Saí da entrevista feliz por ter conseguido acessar tantas memórias e lembranças dessa figura impressionante que é Freire. Todas elas carregadas de ensinamento e beleza. E é por essas e outras que quanto mais o tempo passa, mais consolido a certeza: no fundo e na superfície, ter escolhido um ofício que me permite ouvir histórias para depois ter o prazer de passá-las adiante foi a decisão mais incrível e bem aventurada que tomei na vida.

Deixo vocês com o vídeo acima, em que Marcelino lê, maravilhosamente, um conto de sua autoria, o qual considero um dos mais belos e impactantes. Trata-se de “Totonha”, escrito após o autor assistir a uma dessas reportagens sobre idosos que “ganham” a oportunidade de aprender a ler devido a algum tardio programa governamental. Para saber mais sobre Freire, acesse seu blog EraOdito. Basta clicar aqui. E boa viagem!