Quem me conhece sabe de minha paixão por Hilda Hilst. Escritora que foi, ao lado de Adélia Prado, tema de minha dissertação de mestrado, em 2003. Amanhã, 21 de abril, Hilda faria 80 anos. E hoje, em meio ao turbilhão de emoções que vivi (metade por conta do trabalho e metade porque uma amiga muito querida passou por uma cirurgia delicadíssima no coração), recebi um e-mail maravilhoso do Daniel Fuentes, que cuida lá do Instituto Hilda Hilst, em Campinas.

Olha só que notícia boa ele nos deu:

Caros,

O Instituto Hilda Hilst tem a felicidade de comunicar, nesta semana em que Hilda completaria 80 anos, o inicio do processo de tombamento da Casa do Sol, sede do Instituto, e também o lançamento de projeto arquitetônico de reforma e construção de teatro, biblioteca e residência de bolsistas. Recomendamos também reportagem especial sobre Hilda e o futuro do Inst. Hilda Hilst que irá ao ar no programa Metrópolis da TV Cultura, quarta-feira dia 21, as 20:30 hs.

Neste tombamento vale ressaltar a fundamental participação da Academia Paulista de Letras, Unicamp e Ed. Globo, além da amizade e empenho da amiga Lygia Fagundes Telles. Importante valorizar também a parceria com o escritório RBF Arquitetura e Planejamento, responsável pelo projeto arquitetônico para o futuro da Casa do Sol.

Outro evento interessante que circunda esta “semana Hilda Hilst” é o lançamento do livro “Porque Ler Hilda Hilst”, de Alcir Pécora, pela Ed. Globo, que contará com pocket-show de Zeca Baleiro e outros eventos interessantes.
Todos estão convidados (dia 21, 16hs, Livraria Cultura do Shopping Pompéia)!

Grande abraço,
Daniel Fuentes
www.hildahilst.com.br

Bom, queria compartilhar a notícia e terminar este post inserindo dois textos. O primeiro é meu soneto preferido nesta vida, que é, claro, de Hilda. O outro é um poema que o Drummond fez para ela. Uma coisa muito fofa, como só ele sabia fazer 🙂 Estou certa de que vocês irão gostar.

Sonetos que não são

Aflição de ser eu e não ser outra.

Aflição de não ser, amor, aquela

Que muitas filhas te deu, casou donzela

E à noite se prepara e se adivinha

Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha

Que te retém e não te desespera.

(A noite como fera se avizinha.)

Aflição de ser água em meio à terra

E ter a face conturbada e móvel.

E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.

Aflição de te amar, se te comove.

E sendo água, amor, querer ser terra.

(Roteiro do Silêncio(1959) – Sonetos que não são – I)

Agora, o poema do Drummond:

Estrela Aldebarã

Abro a folha da manhã

Por entre espécies grã-finas

Emerge de musselinas

Hilda, estrela Aldebarã.

Tanto vestido enfeitado

Cobre e recobre de vez

Sua preclara nudez

Me sinto mui perturbado.

Hilda girando boates

Hilda fazendo chacrinha

Hilda dos outros, não minha

Coração que tanto bates.

Mas chega o Natal

e chama a ordem Hilda.

Não vez que nesses teus giroflês

Esqueces quem tanto te ama?

Então Hilda, que é sab(ilda)

Manda sua arma secreta:

um beijo em morse ao poeta.

Mas não me tapeias, Hilda.

Esclareçamos o assunto.

Nada de beijo postal

No Distrito Federal

o beijo é na boca e junto.

(Carlos Drummond de Andrade)

Então? Não são duas coisas mais lindas, mais cheias de graça?