Passei o final de semana no interior de São Paulo, sem internet. O passeio foi bom, mas trouxe um problema. Na verdade, fiquei arrasada porque perdi a palestra do António Lobo Antunes na Flip. Se tivesse ficado em casa, poderia ter acompanhado tudo pela web.
Cheguei há poucas horas e fui correndo conferir o trechinho que a Flip disponibiliza no site do evento. Só três minutos… Puxa, foi tão pouco… Acabei procurando outros vídeos dele no You tube (algum que eu ainda não tivesse visto). Achei esse aí de cima e foi uma alegria sem tamanho. Nove minutos bem editados em que Lobo Antunes discorre sobre livros, processo de escrita, literatura.
Minha relação com esse autor português é estranhíssima porque, por diversas razões, ainda não consegui ler nenhum de seus livros. Sempre surge um trabalho, uma pesquisa ou uma tarefa que me aparta de sua obra. Não é raro acontecer isso comigo, aliás. Primeiro, me apaixono pela pessoa. Fico um tempão namorando o autor a distância para, só depois, ter acesso à obra. O mesmo ocorreu com Hilda Hilst e Adélia Prado. Primeiro, vi várias entrevistas e li diversos textos sobre as duas e, quando finalmente cheguei aos livros, o amor foi tão arrebatador que acabei escolhendo ambas como objeto de estudo da minha dissertação de mestrado. Seguiram-se dois anos lendo e me dedicando, apenas, a elas. Um casamento mesmo.
Ainda não sei o que vai acontecer quando eu ler um livro de Lobo Antunes… Talvez me case com ele também, nunca se sabe. Vivo a mesma expectativa em relação à obra de Nélida Piñon. Tudo o que é entrevista que essa autora dá acaba caindo em minhas mãos, é uma coisa incrível. Já li pilhas delas, como também assisti várias entrevistas de Nélida na TV. É só mudar de canal e ela aparece. Simples assim. Tanto com Lobo Antunes quanto com Nélida, tenho aquela sensação que antecede os primeiros encontros amorosos: frio na barriga, insegurança, medo, expectativa, fantasias… Passo horas à frente do espelho da vida, me arrumando para eles, me preparando, conferindo cada detalhe que reveste meu espírito, minha mente. Vou amadurecendo, de modo que, quando encontrá-los, eu seja uma mulher mais interessante, mais capaz de usufruir tudo o que têm para me dar.
Não há angústia nessa espera. Só o desejo e a certeza de que a vida, em breve, vai nos colocar frente a frente. E estou convicta de que será inesquecível.