Nada como Manoel de Barros pra encerrar uma semana tão cansativa quanto essa que tive. Outubro começou quente e tudo indica que terminará fervendo. Por isso, vim aqui escrever este post, na esperança de recuperar as forças falando sobre um poeta.
Infelizmente, não conheci a poesia de Manoel de Barros na escola. A bem da verdade, demorei anos para encontrá-la na esquina das prateleiras das livrarias e na curva de algumas entrevistas que ele concedeu a jornais, revistas e emissoras de televisão.
Então, em dezembro de 2004, aconteceu: numa linda noite de luar, em pleno calor do sertão potiguar, mergulhei fundo em seu livro Poemas Rupestres e, desde então, prossigo submersa no líquido amniótico de suas palavras. Vez ou outra venho à superfície, mas só pra dar mais valor às águas pantaneiras da poesia de Barros.
O trailer acima é do premiado documentário Só 10 por cento é mentira, cujo título rende homenagem à famosa máxima de Barros, que diz assim: “De tudo o que escrevo, 90% é invenção. Só 10% é mentira”. Genial, não? Simplesmente genial.
Mas o mais absurdo dessa história é que ainda não vi o documentário. E eu gostaria muito que isso fosse mentira, pura invenção. Por outro lado, não ter visto esse filme me traz aquela sensação prazerosa de coisa boa que a gente tem certeza que está para acontecer. Sabe aquela pré-felicidade? E claro que tudo isso me lembra muito o conto Felicidade Clandestina, meu preferido da Clarice Lispector. É isso: o que me conforta é saber que essa felicidade está logo ali, na esquina, na curva de alguma locadora decente (porque nem todas, afinal, têm documentários brasileiros, mesmo que premiados), esperando por mim.