Com Potira Cortez, na cerimônia do Prêmio Jabuti.
E por ser uma estrela de brilho tão intenso, Potira Cortez, que partiu ontem rumo à constelação que a regia, soube iluminar de forma singular a vida de todos os que tiveram o privilégio de cruzar seu caminho aqui na Terra. Sua presença irradiava uma sensação que era misto de acolhimento, compreensão, doçura e tolerância. Durante quase 40 anos, esteve ao lado de José Xavier Cortez na construção da Cortez Editora e também da Livraria Cortez, especializadas na publicação e venda de livros universitários e consideradas referências no mercado editorial brasileiro.
Potira tinha sempre um sorriso, uma palavra de afeto e um abraço maternal pronto a presentear os que se aproximassem dela. Durante todo esse ano, tive a sorte de poder desfrutar de sua presença. Foi uma honra conhecê-la, entrevistá-la, frequentar sua casa, tomar café da tarde ao seu lado, experimentar seu famosíssimo macarrão natalino, admirar o modo como amava seus animais de estimação.
Quando falava sobre Cortez, dizia: “O Zé isso…, O Zé aquilo…, O Zé gosta assim…, O Zé prefere assado…”, numa sucessão de frases repletas dessa musicalidade própria de quem conhece a fundo os acordes que executa. Por meio de seu olhar e de sua memória, pude conhecer um pouco mais do “Zé” existente dentro do “Cortez”, desvendando o homem por trás do mito. Isso porque para além do Cortez que é editor e livreiro, Potira me apresentou o “Zé” do começo do namoro, o “Zé” que sonhava em tocar sanfona, o “Zé” que inventou uma música para cada uma das três filhas, o “Zé” da roça e do sertão, o “Zé” impaciente, o “Zé” que a chamava de “Nequinha” (diminutivo de “Bonequinha”).
Era idolatrada pela família e durante anos aceitou compartilhar sua casa com sobrinhos, cunhados, primos e amigos do marido que chegavam do sertão para ajudá-lo a construir a editora e a livraria. Como morava ao lado da PUC, não raro também cedia sua residência para abrigar professores e estudantes de mestrado e doutorado vindos de outros estados e até de outros países (amigos de Cortez que não tinham condições de arcar com os custos de hospedagem em São Paulo).
Para além das saudades, é certo que Potira deixará sementes de amor, solidariedade e tolerância. Isso sem mencionar aquele brilho intenso que, de agora em diante, nos iluminará lá do alto.