A João Cabral de Melo Neto

Ontem à noite
adormeci sobre a Pedra do Sono.
Ela me penetrou rija,
com volúpia.
E eu, que estava fértil,
engravidei de palavras.
A gestação entrou pela madrugada
e foi assistida por anjos.
Mensageiros a me povoar os sonhos.
Acordei dilatada.
Pronta.
Agradeci a graça alcançada e,
em poucos minutos,
dei à luz ao poema.
Não me reconheci nele…
A criação era Verbo.
Poder divino.
Evangelho místico de João.
A mim, restava a dádiva de me saber Maria:
mulher vestida de sol.

Goimar Dantas
São Paulo, 28/08/07