Hoje acordei resoluta: a poesia não haveria de me escapar novamente!
Então, ao vê-la faceira, de vestido branco, em meio àquela festa de sentidos, enchi os pulmões de ar e, tal qual amante latino, segurei-a pela cintura e puxei-a com força em minha direção – disposta a suportar um possível tapa na cara. Mas o que a aconteceu foi ainda pior…
Altiva – e do alto de sua beleza estonteante –, a danada me sorriu com um misto de piedade e sarcasmo (mistura que só ela consegue engendrar, diga-se). Então, com suavidade, retirou minha mão pesada de seu corpo delgado, lançou um olhar fulminante pro horizonte das duas janelas de minha alma cabocla, e disparou: “Desculpe, mas hoje eu realmente não estou a fim. Outro dia, quem sabe?”.
E foi-se embora, rebolativa, na direção de um grupo de rapazes boêmios que, de certo, iriam compor o samba mais bonito de suas vidas.
Saí cabisbaixa do salão e, de uma vez por todas, ciente de que a inspiração, assim como o amor, independe de nossa vontade.
Goimar Dantas
São Paulo
28 de março de 2010