Soube que era viciada em café há três anos, quando passei por um tratamento odontológico que proibia a ingestão dessa bebida por uma semana. Minha dentista perguntou: “Tudo bem pra você ficar sem café?”. E eu, convicta: “Claro, sem problemas. Só tomo mesmo um golinho de manhã e outro à tarde”. No dia seguinte, às 10 horas, eu já estava subindo pelas paredes, nervosíssima. Foi um choque sem precedentes: eu tinha um vício e não sabia.
Imediatamente lembrei de um chefe que tive na época da faculdade de jornalismo. Ele era alcoólatra e, volta e meia, era acometido por delirium tremens. Lembro de suas mãos chacoalhando na tentativa vã de equilibrar míseras folhas, óculos, canetas. Não demorava muito e ele entrava em sua sala para recompor-se com uma dose de uísque. Então, suas mãos paravam de tremer e tudo voltava ao normal. Eu tinha pena dele. Mais do que isso: o considerava um fraco, um derrotado.
Mas a casa caiu no dia em que fiquei sem meu cafezinho. Passei uma semana de cão até poder voltar a ingerir o líquido negro e fumegante que me acorda e aquece, deslizando quente por minha garganta sempre tão sensível e carente de calor. Desde então, penso um milhão de vezes antes de ter pena de quem quer seja. E quanto a me sentir superior em relação aos alcoólatras, fumantes e que tais, só me resta confessar: Perdi, playboy… Perdi.