Não dirigir automóveis tem suas vantagens. A principal é a liberdade de poder olhar paisagens e pessoas com atenção redobrada. Ser passageira permite observar e absorver as dores e delícias do caminho em toda a sua plenitude de sinais, cores, aromas e sensações. Também possibilita reconhecer personagens em meio às calçadas, faixas de pedestres, interiores de ônibus e carros que trafegam ao lado.
E se estou no trem ou no metrô, tanto melhor. Com olhar invasivo, percorro o corpo, as vestes, os trejeitos, os defeitos, a luz e a lama dos companheiros de vagão e dos transeuntes da estação. Para eles crio histórias, trajetos líricos, memórias, dramas, romances, poesias. Deixo que transcendam, surpreendam, multipliquem. Quando dou por mim, quem os está conduzindo sou eu.
Inventar histórias é um jeito todo próprio de brincar de Deus.
*A frase em latim Non Ducor Duco aparece escrita no brasão da cidade de São Paulo e significa “Não sou conduzido, conduzo”.