José Eduardo Agualusa, escritor angolano.
No último sábado, às 19h, na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, o escritor angolano José Eduardo Agualusa compôs ótima mesa de debates com o escritor moçambicano Mia Couto, ambos mediados pelo crítico literário Manuel da Costa Pinto. Foi uma maratona chegar à Bienal no sábado, penúltimo dia do evento. Havia milhares de pessoas no Pavilhão do Anhembi e juro por tudo quanto é sagrado que, na entrada do local, temi ser pisoteada. Aquilo estava um horror. Mesmo tendo convite e credencial, era preciso passar, primeiro, por uma entrada geral que, para o meu desespero, parecia afunilar toda a população da capital paulista. Mas, no final das contas, consegui não só sobreviver como também assistir as duas mesas mais cobiçadas do dia: a das 17h, com Lygia Fagundes Telles, e a das 19h, com os africanos Agualusa e Mia Couto.
Adorei o sorriso do escritor Mia Couto…
… e também gostei demais de suas reflexões sobre língua e literatura brasileira e africana. Aliás, Couto bateu um bolão com Agualusa. Os dois são amigos de longa data e a sintonia entre ambos era incrível. Parecia jogo de volêi: um levantava e o outro cortava. Quem ganhou foi o público que, por sinal, estava afiadíssimo nas perguntas – coisa rara em eventos dessa natureza. Por sorte, havia muitos pesquisadores e amantes da literatura africana na plateia composta por cerca de 200 pessoas.
Os escritores ressaltaram o fato de nos últimos 10 anos o Brasil ter dado mais abertura aos escritores africanos de Língua Portuguesa, cada vez mais presentes nas livrarias e eventos literários realizados no país. E Agualusa foi além: para ele, esse diálogo também se deve ao interesse do governo brasileiro em estreitar relações com o continente africano: “O presidente Lula viajou várias vezes à África durante sua gestão e isso, claro, contribui para o intercâmbio de informações entre os dois países”, ressaltou.
O debate abordou, dentre outras coisas, os seguites temas: reforma ortográfica; observações sobre as diferenças e semelhanças entre Brasil e África; histórias vivenciadas pelos dois autores em nosso país (todas elas deliciosas, engraçadas, comoventes!); a parceria de ambos na elaboração de peças teatrais e o romance Milagreiro Pessoal, que Agualusa acaba de concluir. O autor falou, ainda, sobre a Editora Língua Geral, que mantém no Rio de Janeiro juntamente com outros dois sócios.
O momento mais emocionante, a meu ver, foi protagonizado por Agualusa que, ao ser questionado sobre a importância do escritor angolano Ruy Duarte, morto este ano, não conseguiu segurar as lágrimas: “Ele era um grande amigo. Há 20 anos venho batendo na mesma tecla: Ruy Duarte é um dos maiores escritores da Língua Portuguesa! Não me conformo com sua morte. Sem sua presença, Angola fica mais triste e escura”, afirmou, com voz embargada.
Lygia Fagundes Telles: a grande dama
E antes da mesa de Couto e Agualusa, assisti, pela segunda vez nessa Bienal, uma palestra da grande dama das letras nacionais: Lygia Fagundes Telles, 87 anos. Lygia discorreu sobre seus romances, personagens, amores, fantasmas, invenções e memórias. A autora é uma grande contadora de histórias e é sempre um deleite poder ouvi-la. Na semana passada, a criadora de romances e contos, dentre os quais destaco o genial A estrutura da bolha de sabão, meu preferido, nos falou de suas lembranças com Monteiro Lobato – um dos homenageados da Bienal. Foi lindo. Usei o gravador digital e registrei tudo, mas também gravei suas palavras no coração, como tem de ser.
Lygia, mediada pelo crítico literário Manuel da Costa Pinto (à esquerda) e o jornalista Ubiratan Brasil (à direita).
Enfim, este ano só consegui ir à Bienal dois dias, e apenas ontem pude levar a máquina para exercitar meu lado “fotógrafa”. Na minha primeira visita ao evento, no último dia 13, tive de usar o celular para fotografar. Ainda não baixei as fotos. Se ficarem minimamente decentes, prometo postá-las aqui.
E lá estava eu, quase 21h da noite de sábado, cansada, mas feliz da vida por ter assistido às palestras e, principalmente, por sobreviver ao tumulto na entrada do Pavilhão. Ao que tudo indica, escapei por obra e graça do Dr. House, santo protetor do dia, que você pode ver estampado em minha camiseta:)