Na última segunda, dia 15, fui à Biblioteca Municipal de Cubatão assistir a uma palestra com Adélia Prado, minha poeta preferida e uma das escritoras cuja obra analisei na dissertação de mestrado. Como tiete assumida da autora, fiz tudo o que tinha direito: conversei com ela antes de começar o evento, peguei mais um autógrafo (já é o terceiro), dessa vez no meu exemplar de Filandras, tirei fotos e babei oceanos enquanto ela discorria sobre prosas e poesias. Adélia estava, como sempre, inspiradíssima.
Leu poemas de Drummond e, atendendo a pedidos, leu e declamou alguns dos seus poemas, especialmente os da obra Oráculos de Maio. Para minha mais absoluta felicidade, também conheci o famoso Zé, marido de Adélia, e “muso” inspirador do belíssimo poema “Casamento”, que reproduzo abaixo:
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Texto extraído do livro “Adélia Prado – Poesia Reunida”, Ed. Siciliano – São Paulo, 1991, pág. 252.