Histórias de amor geralmente não têm como ser explicadas usando “Aurélio” e “Houaiss”. São e pronto. Levam a gente à loucura e pronto. É assim. Como dois e dois são cinco (já dizia aquele gênio polêmico nascido em Santo Amaro da Purificação).
Mas daí vem a gente querendo escrever sobre essas histórias de amor. Vem a gente querendo entender mais sobre elas. Vem a gente querendo dar um jeito de traduzir o intraduzível…
E lá vou eu tentar explicar meu amor pela música “Sonhos”, do Peninha. Amor de infância, diga-se. Na minha casa, meus pais só escutavam rádio AM. E essa música era um verdadeiro hit nos programas populares.
Nessa época, eu ainda não tinha histórias de amor mal-sucedidas, dessas de arrancar os cabelos. Quer dizer, tinha o Fabiano, um amor platônico da pré-escola. Um menino de olhos azuis, cabelos loiros e totalmente desprovido de qualquer indício de que soubesse da minha existência. Mas eu não sofria com isso. Afinal, ele era bonito mesmo olhando sempre para o lado oposto de onde eu estava. E, naquele tempo, apreciar o belo me bastava.
Poucos anos depois, apesar de ainda não sofrer, mal o rádio iniciava os primeiros acordes de Sonhos, eu ficava lá, com o olhar perdido, imaginando romances tórridos com os meninos da minha classe… Com meninos da minha rua… Com qualquer menino que cruzasse o meu caminho (descrição do meu conceito de romance tórrido na infância: beijo na boca, seguido de sorvete ou vice-versa). Verdade seja dita, não importava o menino. O coitado era um mísero objeto pra que eu pudesse entrar no universo de amor e dor propiciado pela música.
Não é incrível esse poder de transcendência provocado pela letra e pela melodia de algumas canções?
Eu me rendo a elas. E ainda hoje, tantos anos depois, volta e meia crio mundos para poder me entranhar em algumas músicas. Nessas horas, deixo a imaginação dar o tom e vivo outras vidas. Outras paisagens. Transito por outras fronteiras. E dou graças, sempre, pela viagem. Porque toda viagem é um aprendizado. E o que mais me atrai nessa vida é o conhecimento e a possibilidade de experimentar o novo (mesmo quando ele está usando trajes antigos).
E ontem, pude viajar novamente à minha infância, aprendendo um pouco mais sobre ela. Bastou que, para isso, eu encontrasse um passaporte disponível no You tube. Um bilhete irrecusável concedido por Paula Toller. Eu não estava procurando por essa viagem, em específico, mas, como ela surgiu na minha frente, agradeci e embarquei.
E lá estava o novo, vestida de mim mesma, aos 9 anos de idade, sonhando com meninos. E o poder dessa imagem trouxe mais inspiração e alegria ao meu dia. E não bastasse isso, ao me ver menina, escutando Peninha mesclado à voz de Paula Toller, aprendi que os Sonhos vão e voltam, às vezes com vozes, tons, trejeitos e estilos diferentes.