Nesta dissertação de mestrado, debruçamo-nos sobre as influências e evidências do sagrado, do profano e dos aspectos carnavalizantes nas obras de Hilda Hilst e Adélia Prado. Seus livros, que denominamos sapienciais, traduzem os anseios, conflitos, dúvidas, angústias e contradições da alma humana, assim como os questionamentos que acompanham o homem desde os primórdios da civilização. São dilemas e vivências que encerram em seu cerne o yin e o yang, o masculino e o feminino, a luz e as trevas, a matéria e o espírito, o particular e o universal, o sagrado e o profano — polos complementares que configuram uma eterna aliança entre o rebaixamento e a transcendência.
Para adentrar a complexidade de suas experiências poéticas, buscamos apoio na genialidade de Octavio Paz e Mikhail Bakhtin, cujas teorias nos forneceram os instrumentos necessários para desenterrar o tesouro que Hilst e Prado nos deixam como legado. O livro Poesia Reunida, que agrega toda a obra poética publicada por Adélia Prado até a conclusão deste trabalho, bem como Kadosh, A obscena senhora D e Estar sendo Ter sido — três obras de Hilda Hilst —, oferecem fartos exemplos que corroboram nossa hipótese. Ambas fazem de seu trabalho uma espécie de estrela de cinco pontas, símbolo que representa, entre outras coisas, “a manifestação central da Luz, do centro místico, do foco ativo de um universo em expansão (…) o microcosmo humano” (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2002, p. 404).