Vestido de chita

Sonhei com a cabocla de saia rodada,
cirandando com graça e poesia.
Tinha o corpo da cor da canela,
se vestia de chita e magia.
Requebrava tal Rita Baiana
e lançava feitiço com o olhar.
Mas se queria ferir fundo n’alma:
era só um sorriso esboçar…
Fez-se dona daquele ambiente,
tal qual brisa que domina o ar.
Era radiante como o sol!
Era mais bonita que o luar!
Tinha o mar no fundo dos seus olhos
(de ressaca que insiste em sugar:
outros olhos que cruzam com os dela
e se deixam pra sempre afogar…)
O poder das morenas sereias!
Dessas moças nascidas em aldeias…
Dessas lendas que vêm nos tomar.
São mais fortes do que se imagina.
Já deixaram de ser Macabéas,
(porque fazem bem mais que sonhar).
Heroínas de muitas platéias.
Hoje andam pela paulicéia.
Desenvoltas lutam sol a sol
E se cansam?
– Resgatam a Ciranda!
E de noite se põem a dançar!
Já não usam vestido de chita.
(mas ainda há magia e luar).
Como em aldeias longínquas, dispersas,
que tem, sim, um não sei quê de mar…
Que o sertão tem a honra e a graça
de chamar pelo nome de “olhar”.
E é dentro desse mar-olhar
que as morenas teimam em carregar
uma espécie de mundo encantando:
rio que desemboca em alto-amar!

Goimar Dantas
21/03/2007