“A inspiração não é de todos os instantes. Só os loucos têm inspiração permanente”. Esta é uma das tantas frases sensacionais do poeta, romancista, crítico e musicólogo Mário de Andrade. Li-a ontem à noite, à página 249 do essencial História do Modernismo Brasileiro, de Mário da Silva Brito. Imediatamente, fui levada a refletir sobre o ofício da escrita e, por extensão, os conceitos de arte e criação. Outra variação sobre o mesmo tema advém de uma lembrança pessoal: trata-se de uma máxima do professor Dirceu Fernandes Lopes que, em suas aulas de História do Jornalismo no Brasil, frisava: “Escrever é 5% de inspiração e 95% de transpiração”.
Tanto a frase de Mário de Andrade quanto à do professor Dirceu nos remetem à importância do trabalho árduo em detrimento da espera acomodada pela inspiração divina. Ambas escancaram a verdade: quem escreve, pinta, toca, compõe, esculpe, atua, dança ou realiza qualquer outro tipo de atividade artística precisa ser, antes de tudo, um trabalhador. Um operário cujo esforço e labuta devem ser diários. Horas de prática, treino, reflexão, tentativa, erro, acerto, suor e cansaço são necessárias para exercitar os neurônios, abrir os poros da intuição e dilatar as pupilas da alma. Sem essa série cotidiana de ginástica física, mental e psicológica não há inspiração que se aproxime. Até porque ela é uma figura lindíssima, cheia de charme, exigente. E só aceita fazer par com quem luta, de forma obstinada, para merecê-la.