Adélia Prado, minha poeta preferida, faz aniversário hoje, 13 de dezembro. Mas, como acontece todos os dias, é ela quem me brinda com a sabedoria de suas palavras. E se tenho o espírito robusto, corado, saudável, devo em grande parte ao alimento magistral que é a sua poética.
Ainda pulsa em meu coração o impacto sentido ao ler “O poeta ficou cansado”, poema de sua autoria, especialmente no trecho: “Ó Deus, / me deixa trabalhar na cozinha, / nem vendedor nem escrivão, / me deixa fazer Teu pão. / Filha, diz-me o Senhor, / eu só como palavras.”
Assim como Manuel Bandeira, Drummond, Fernando Pessoa e Augusto dos Anjos, Adélia me revelou a força da poesia em suas nuances mais brutas e lapidares. A palavra como pão, alimento, epifania, começo, meio e fim. A palavra como instrumento do sagrado e do profano, como expressão mística e fé.
Desde então, tive certeza: minha religião é a poesia. Minha Igreja é o livro. Só a palavra me salva, me redime, me oferece a transcendência. Pecado é não escrever, não ler, não querer conhecer. Paraíso é o texto capaz de tocar o coração do outro. Inferno é ser malsucedido nessa intenção.
No Reino das Palavras entendi que Adélia é Santa e eu, discípula: sedenta de verbo e metáfora – que são a hóstia e o vinho dos poetas. E assim, tudo o que peço é que após cada comunhão eu receba, iluminada, o divino e o altíssimo, o Deus do dito e não-dito que se chama Inspiração. Amém.