Sexta à noite fui assistir Milk – A voz da igualdade (direção de Gus Van Sant e roteiro de Dustin Lance Black, 2008). Durante a projeção, chorei umas cinco vezes, absolutamente comovida pela extraordinária atuação de Sean Penn, que levou o Oscar de Melhor Ator interpretando o não menos extraordinário Harvey Milk, ativista e líder da luta pelos diretos homossexuais nos anos 70 e primeiro gay assumido a conquistar um cargo público nos EUA.
O filme, que também faturou a estatueta de melhor roteiro original, é, a bem da verdade, uma obra superlativa, repleta de performances magníficas e cenas antológicas. As que incluem as passeatas são, a meu ver, um show à parte, porque expressam com força impressionante a importância crucial do sentido de união – tão necessário às grandes mudanças.
Para além disso, essas mesmas cenas revelam o excepcional carisma do protagonista, aliado à sua inteligência coroada por uma verve privilegiada – qualidade indispensável à luta contra as diretrizes de uma sociedade preconceituosa, no caso, a americana, mas que bem poderia ser a nossa, a de nossos vizinhos e a de tantos outros países do Ocidente e do Oriente.
Em sua saga de oito anos, tempo que levou para se eleger para o Quadro de Supervisores de São Francisco, em 1977, Milk empresta voz a um discurso pontuado por questões que, há séculos, já deveriam dar o tom das relações humanas: igualdade, liberdade, fraternidade. Uma tríade que é cerne da oratória e das ações dessa personagem real, mas que, em pleno século 21 – e na falta de pessoas com a mesma coragem e idealismo –, permanece, grande parte das vezes, reclusa entre a capa e a contracapa dos livros de História.
Assistir Milk faz com que acreditemos que, por vezes, é possível transformar a tal tríade em realidade palpável, construindo novas e poderosas histórias que, finalmente, possam alterar àquela outra, curiosamente grafada com o “H” maiúsculo.