Tô fazendo o curso Visões do documentário, lá na Casa do Saber. A primeira aula foi com Eduardo Coutinho, que é, na opinião dessa humilde cabocla que vos fala, um dos cineastas mais importantes do Brasil contemporâneo. Coutinho é autor de documentários geniais como Edifício Master, Babilônia, Jogo de Cena, Santo Forte e Boca de Lixo, sem falar do mítico Cabra marcado pra morrer, que eu, vergonhosamente, ainda não vi. A aula foi excelente, infinitamente superior ao que eu já esperava. Assistimos trechos de vários trabalhos dele e, na sequência, Coutinho comentava tudo com riqueza de detalhes. “Eu fiz assim por causa disso/Fiz assado porque queria demonstrar aquilo” etc, etc.
Para além disso, Coutinho foi homem com agá, a ponto de expor suas fraquezas, medos, fragilidades e defeitos. Coisas como: “Eu sou um cara muito desorganizado”, “Perdi o controle do filme”, “Não sabia como terminar”, “Quando eu vi, tinha um monstro de quatro horas na minha frente e não tinha a vaga ideia de como transformar aquilo em filme. Só me restou pedir ajuda ao João (Moreira Salles) e ele me socorreu divinamente”.
Fiquei de cara. Eu acho tão lindo quando a pessoa se desnuda dessa forma na frente de um bando de gente desconhecida… Imediatamente, se estabelece uma relação fraternal, íntima, uma conexão que nos põe, de fato, no mesmo barco. É claro que todo mundo tem medos e inseguranças, mas quando pessoas que admiramos confessam que sentem o mesmo (e com freqüência!), isso se transforma num incentivo e tanto.
Já a segunda aula, com o documentarista Carlos Nader, foi realmente uma surpresa porque eu nunca tinha assistido nada dele (apesar de querer muito ter visto Pan-cinema permanente, documentário sobre o poeta Waly Salomão, primeiro lugar no festival É tudo verdade, 2008). Documentários sobre poetas sempre têm lugar cativo no meu coração potiguar, mas, no final do ano passado, eu tava trabalhando feito uma mula e não tive tempo de conferir o filme no cinema. Voltando à aula, fiquei incomodada com os primeiros filmes dele, todos com uma levada experimental demais para o meu gosto. Achei interessante conhecer, mas não é, definitivamente, minha praia.
Porém, os dois últimos trabalhos do Nader me ganharam, principalmente o que vi de Pan-cinema permanente, que vou conferir na íntegra assim que sair em DVD. Aliás, nesse filme, há uma das cenas mais bonitas que já passaram por esses olhos que a terra não há de comer (porque eu já sou doadora há anos). Trata-se de uma tomada linda que apresenta uma moça dançando ao som de uma música árabe, à frente do Waly Salomão. Na metade da cena, Nader substitui a música pela canção Vapor Barato, de autoria do Waly. Enquanto isso, a moça continua lá, serpenteando.
Fiquei arrepiada e enchi os olhos d’água durante a projeção. Aliás, estou cada vez mais emotiva. Começo a achar que tenho de andar com caixa de lenço de papel na bolsa, forever. No trailer postado acima tem um trechinho dessa cena, mas, infelizmente, é muito pequeno para dar a dimensão exata do seu impacto. No mais, Nader se mostrou uma figura genial e muito doce. Durante a aula, declamou Fernando Pessoa e leu trechos do último volume de Em busca do tempo perdido, de Proust, pra gente. Fofo até a medula.
Estou muito animada com o curso. Pena que é curtinho e só teremos mais três aulas. Muito pouco pro tamanho da minha sede…