Era madrugada e eu dormia, mas, meu espírito… Esse estava bem acordado. Silenciosamente, ele deixou meu corpo e saiu voando para encontrar o seu, como de costume. Logo que nossas almas se avistaram, tudo fluiu como deveria e, imediatamente, comecei a sonhar. Lembro de que no sonho você me olhava com uma ternura infinita e não cessava de mexer em meus cabelos. Bastou esse pequeno gesto para eu consolidar a certeza de que é mesmo impossível descrever em palavras o poder de suas mãos – tradução exata da tal felicidade que todo mundo vive procurando.
Em nosso devaneio noturno, estávamos próximos a um rio, numa paisagem que lembra floresta, parque, bosque… Não me recordo absolutamente o que dizíamos um para o outro. Nem precisa. É suficiente a memória dos sentimentos e dos significados trocados quando nos olhávamos. Segui nesse ritmo por tempo indefinido porque, como qualquer mortal, desconheço a dimensão dos segundos, minutos e horas quando se está sonhando. Porém, ao acordar, percebi que tudo durou o bastante para eu concluir: a minha poesia não passa de uma tentativa de expressar o que nossos espíritos ousam viver quando estão libertos. Quando estão soltos nessa outra instância do tempo e do espaço. Lugar onde não há saudade. Fronteira onde não há vontade que não possa ser saciada.
E se não há mesmo outro jeito, aceito, de bom grado, a missão de passar a vida juntando esses cacos oníricos para, posteriormente, compor versos e prosas. É parte do meu ofício tecer a trama da existência através das palavras… É meu destino semeá-las e regá-las. Quem sabe um dia elas possam desabrochar exalando perfumes que o atraiam, verdadeiramente, para perto de mim.
Goimar Dantas
São Paulo
29-01-08