Estátua de São Paulo Apóstolo, Praça da Sé, São Paulo, Brasil
São Paulo, lamento e caminho, metrópole e ninho, sonho e sedução…
São Paulo, de arrependimentos, prazeres, lamentos, calma e confusão.
São Paulo, da terra molhada, da pele encharcada de raios de sol.
São Paulo, furor pós-moderno, cópia dos infernos, Éden nos Jardins.
São Paulo de mil movimentos, espaços e ventos, verões e manhãs.
São Paulo dos bares e ruas, dos céus e das luas, putas seminuas.
São Paulo, conceito abstrato, do sangue no asfalto, tortura e tesão.
São Paulo, caminhos diversos, atrasos, progressos, trem de uma nação.
São Paulo, paixão visceral, da lama e do caos, sinos, catedrais.
São Paulo dos mil artifícios, dos medos e gritos, luz e escuridão…
São Paulo, trilha de bandeiras, de amor sem fronteiras pro mundo lá fora.
São Paulo das mil hierarquias, das periferias, do samba e do jazz.
São Paulo, poesia concreta, na ferida aberta de todos os loucos.
São Paulo, magia de Houdini, cena de Fellini, Glauber, Mazzoropi…
São Paulo, donzelas vadias, meretrizes castas no centro das praças.
São Paulo, reino dos pilantras, palco de carrascos, de deuses nefastos.
São Paulo, Brasil solidário, berço abençoado no Pátio do Padre.
São Paulo, terra dos gigantes, eternos viajantes, peões e empresários.
São Paulo, rios e viadutos, alegrias e lutos, fonte de afeição.
São Paulo, sem definição! Castigo ou perdão? – Xaxado e baião.
São Paulo, da complexidade e da filosofia de um bom botequim.
São Paulo, roteiro de amores e de dissabores, carma do sem-fim.
São Paulo, tempero da vida. Bela, mas… Bandida. Socorro! Ai de nós!
São Paulo do espírito inquieto, moleque irrequieto nas ruas, sinais…
São Paulo da Santa Poesia, da doce utopia, do norte sem cais…
São Paulo, que acolhe e domina, maltrata e ensina:
TE AMO…
Sem mais!
Goimar Dantas
São Paulo
10/08/2004
Obs: Originalmente essa poesia sobre São Paulo foi publicada no blog em 2006. Mas como hoje é aniversário da cidade, fiquei com vontade de inseri-la aqui de novo. A verdade, entretanto, é que gosto tanto desse lugar que considero todo poema insuficiente para tentar abarcar essa terra tão plena de tudo e de todos. Ainda assim, um poema é o presente mais sincero que posso dar a ela.
São Paulo é como uma cena de cinema fascinando o público em cada plano, beco, avenida, cruzamento, monumento. Uma exposição fotográfica fundamentada na luz e na sombra, na cor e na sua ausência, nas linhas e curvas, na geometria complexa e no traçado mais básico. São Paulo é uma instalação, uma obra de arte, uma surpresa. Se não, vejamos: o que existe na esquina da Ipiranga com a São João? Uma placa? Não! Uma canção!!!!! E o que existe, além de casas e ruas, no bairro do Jaçanã? Ora, meus caros: a alma de Adoniran!
Ah, São Paulo… Cidade que foi a “comoção” da vida de Mário de Andrade e tem sido a de tantos outros poetas, artistas, pedreiros, malabaristas, industriários, empresários, comerciantes, operários. Atores sociais que nutrem um tremendo amor por essa selva que, para além do cimento e do concreto, é muito mais de silvas e souzas; cidadãos que, a despeito de habitar um cenário marcado pela inexistência da estátua do Cristo, estão sempre de braços abertos para receber… Mesmo sabendo que aqui o resto não é mar, e sim o asfalto quente queimando o pé da gente a ponto de fazer com que as pessoas andem sempre apressadas, com cara de incomodadas, preocupadas. São Paulo é o cheiro de piche, é a fumaça, é a vista do edifício. São Paulo seria um vício?
Na alma dos apaixonados por São Paulo está tatuada a frase presente no brasão da cidade. Sentença definidora da estirpe, da nobreza e da beleza que é, no fundo e na superfície, fruto da força proveniente da miscigenação pra lá de generalizada que diferencia o seu povo: “NON DVCOR DVCO”, cuja tradução é: “Não sou conduzido, conduzo”.
São Paulo é assim: uma Maria Fumaça que tenta trafegar solene pelas veias que levam ao coração do Brasil. Um percurso que já dura 457 anos e que, a cada 25 de Janeiro, queima ainda mais combustível na tentativa de chegar mais longe. São Paulo é mesmo a tal locomotiva e, só pra agradar a criança que mora em nós, se esforça para apitar a cada dia com mais vigor.
Ah!!! O meu amor pelos trens! Parabéns, São Paulo!!! E obrigada, sempre, pela carona!