João Moreira Salles fala sobre documentário no Curso Abril de Jornalismo
• Ontem terminei o curso de documentário lá na Casa do Saber. A última aula, com duração de três horas, não poderia ter sido melhor. O professor convidado foi ninguém menos do que o documentarista João Moreira Salles. Gostaria muito de ter tempo de escrever horas sobre essa aula espetacular, mas, a essa altura do campeonato, está impossível. Porém, tenho alguns minutos pra dizer que, ao lado de Eduardo Coutinho, João é considerado um dos melhores documentaristas do Brasil e, ontem, foi possível que nós, alunos, entendêssemos como esse cineasta trilhou seu caminho, o que observou, o que leu, de que maneira foi melhorando ao longo do tempo. Da mesma forma que Eduardo Coutinho havia feito na primeira aula do curso, João se mostrou absolutamente sincero e generoso, partilhando conosco suas experiências, o por quê de algumas escolhas em relação a temas, personagens, situações, técnicas e trilhas sonoras utilizadas em filmes e séries como “América”, dirigida por ele aos 23 anos, para a TV Manchete; “Notícias de uma guerra particular”; “Vale”; “Santa Cruz”; “Nelson Freire”; “Entreatos” e “Santiago”. No vídeo acima, você tem uma ótima palhinha contendo um resumo de como João pensa e produz seus documentários.
Acima, minha mais recente “produção” fotográfica. A ideia era ressaltar o tom memorialista do livro da Ecléa Bosi e, para isso, espalhei sobre a mesa da sala dezenas de cartas que recebi de amigos durante a adolescência. Eu adorava escrever e recebê-las e, por isso, ainda guardo boa parte delas.
• Já no domingo, conclui a maravilhosa leitura de Memória e Sociedade – Lembranças de Velhos, de Ecléa Bosi (Companhia das Letras, 2007, 484 páginas). Desde o começo do ano só tenho lido biografias, livros técnicos sobre esse tema ou ensaios, estudos e obras relativas à preservação da memória. Nesse contexto, os livros de Ecléa Bosi foram fundamentais para minhas pesquisas de trabalho. Aprendi muitíssimo sobre a importância da reconstituição da biografia individual para o entendimento não só das relações e histórias familiares, mas do contexto social, como um todo. A obra, publicada em 1979, é resultado da tese de pós-doutorado de Ecléa, na USP. Em meados dos anos 70, a autora entrevistou e reconstitui de forma magnífica a vida de oito paulistanos com idade próxima aos 80 anos. Os personagens vivenciaram os fatos mais marcantes da São Paulo do século XX: a pobreza e a exploração absurda dos imigrantes e migrantes que chegavam à metrópole; o amor pela ópera e pelo teatro; a Primeira Guerra Mundial; a gripe espanhola; diversas doenças provenientes da ausência de saneamento e vacinas; a Revolução Tenentista; a Semana de 22; a Revolução de 32; a Coluna Prestes, as greves e reivindicações operárias; o anarquismo; o getulismo; a Segunda Guerra Mundial; o governo Jânio Quadros; o governo João Goulart; e, finalmente, a ditadura. Trata-se de um recorte amplo e riquíssimo. Por dias, mergulhei numa São Paulo ainda mais incrível, vista pelos olhos daqueles que vivenciaram seu crescimento vertiginoso, bem como suas dificuldades gigantescas. O mais interessante é o fato de o viés histórico-social do texto ganhar forma graças às experiências, dramas, memórias, dores, amores e lembranças pessoais as mais diversas. Impossível não sorrir, sofrer e se emocionar com a vida revivida das personagens Alice, Amadeu, Ariosto, Abel, Antônio, Jovina, Brites e Risoleta. Foi como ler oito romances num só livro. Recomendo vivamente!
A fofa da minha afilhada Lara, em mais um momento: “Comigo ninguém pode”.
• Sábado fomos ao tradicional bairro do Bexiga comemorar os oito anos da minha afilhada Lara, filha do meu queridíssimo tio Damião. Lara é uma figura e, depois do meu filho Yuri, é a criança mais sapeca que já conheci na vida. Estou certa de que ela e Yuri são irmãos de alma. Sobre o passeio: estacionamos o carro no Centro próximo ao Bexiga, onde mora meu tio, e fomos andando até a ótima Cantina Capuano, que funciona – de maneira ininterrupta – desde 1907. Adorei o clima aconchegante e bem “família” do lugar, lotado de italianos cantando a plenos pulmões. Além disso, a comida era deliciosa e o vinho da casa… Bem esse era tão doce que parecia suco de uva (do jeitinho que eu gosto, diga-se). Tomei dois goles, que é o máximo a que me permito, para o bem da humanidade. Mais do que isso e eu começo a declamar poemas simbolistas… Portanto, em ocasiões festivas, melhor evitar, né? 🙂
José Olympio: o editor e sua Casa.
• Tenho paixão por biografias e elas são, de fato, mais necessárias do que nunca neste momento em que me dedico a escrever uma. Confesso, porém, que estou com uma saudade danada de ler poesias e de mergulhar de cabeça na leitura de um bom romance. Puxa, como eu sinto falta… Mas tem nada, não.. Vou aproveitar uma viagem, nos próximos dias, para me dedicar a isso. Até porque preciso de um respiro antes de iniciar a leitura da fenomenal biografia que ganhei essa semana: “José Olympio – o editor e sua casa” (Organização: José Mario Pereira, Editora Sextante, 2008, 425 páginas). A obra é uma verdadeira cachaça pra quem, como eu, se interessa pelo mundo dos livros, pelo mercado editorial, pelos bastidores das edições históricas publicadas pela Editora José Olympio. Repleto de fotos, reproduções de capas famosas, cartas e bilhetes de autores como Cecília Meireles, Drummond e Guimarães Rosa, o livro é obrigatório para os amantes da literatura nacional. Depois conto mais sobre ele por aqui!
A qualquer momento, novas notícias, crônicas e declarações de amor. 🙂