Dona Lourdes, vó do maridão, é uma menina de 90 anos: levada, ágil, marota e maliciosa. Vez ou outra, puxa a gente pela manga para nos contar, em sussurro, bem ao pé do ouvido, um disse-me-disse qualquer. Sá Lourdes, como é conhecida, gosta de dormir até meio-dia, como um bom adolescente. Sempre que assiste novela, discute ardorosamente com os personagens, como se esses pudessem, de fato, escutar suas reclamações. Não raro, discorda do roteiro, do texto, dos temas e dramas criados pelos autores. Nessas horas, põe o dedo em riste e, em meio ao chiste e ao caipirês fluente, passa um sabão na mocinha da trama, soltando pérolas assim:
“- Ôooo, ma qui muié burra!!!! Não vê qu’ele tá traindo ocê?! Ma é tonta demais da conta!”. E meneia a cabeça, consternada com a atitude xexelenta da protagonista do folhetim.
Aos 89, voltou a fumar porque… Bem… Com essa idade, não vê mais necessidade de se privar dos vícios. Sá Lourdes teve uma penca de filhos, netos e bisnetos. O marido era por demais chegado na “marvada” e, por conta disso, coube a ela sustentar a filharada no cabo da enxada, na lida diária dos cafezais do Sul de Minas Gerais.
No último domingo, na pequena cidade de Artur Nogueira, interior de São Paulo, onde hoje mora com a família, Sá Lourdes estava altiva e radiante ao som de duplas caipiras e conjuntos musicais que têm no forró seu estilo predominante. A festança comemorava os 90 anos da matriarca. E na hora do arrasta-pé, como era de se esperar, Sá Lourdes deu um baile em muita gente. Na entrada da festa, recebia os amigos e parentes com um abraço apertado, sorriso largo e curiosidade indisfarçável pra saber qual era o presente trazido pelo convidado.
Ah, Sá Lourdes… Se todos os personagens fossem iguais a você, que maravilha viver!
Ps: antes tarde do que nunca, estou atualizando o post com essa nova foto da hora do bolo, reunindo Sá Lourdes, alguns de seus netos e uma bisneta (clique pra ver ampliada). Tudo pra Sá Lourdes ficar mais feliz. Explico: é que ela detestou a foto em preto e branco. E não custa eu tentar me redimir, não é?