Entre os 13 e os 23 anos troquei muitas cartas de amor e amizade. Foi uma época mágica em que a preservação de minha memória pessoal se unia a tinta e aos papéis, viajando distâncias muitas vezes continentais para se fazer conhecida pelos receptores de minhas crônicas, poemas e declarações de amor. Mas eu também trocava cartas com quem estava perto, no mesmo bairro ou na cidade vizinha.
Isso porque tive a sorte de me relacionar com pessoas que, assim como eu, acreditavam piamente no poder das palavras – essa espécie de entidade capaz de trazer na essência raríssimos selos de sentimento. Selos espalhados por linhas e entrelinhas que exercem, em nossas vidas, papeis fundamentais.
Cartas mudavam destinos, fortaleciam laços, amenizavam saudades. Cartas traziam tristezas, alegrias, felicidade. Cartas retratavam um tempo, um pensamento, uma dor, uma esperança. Cartas mandavam e recebiam lembranças.
Por meio das cartas exercitei meu texto, meu poder de argumentação, de síntese, de persuação. Cartas são um tipo de lição e, por que não dizer, de oração. Quantas vezes, quando as recebia, eu optava por lê-las em voz alta. Uma tentativa ingênua de fazer com que, milagrosamente, o som das palavras tivesse força suficiente para, quem sabe, materializar à minha frente a figura tão desejada da pessoa amada.
Mas muito dessa magia se perdeu à proporção que a internet ganhou espaço. Não vou dizer que meu coração nunca bateu forte ao receber um e-mail. Já ri, chorei e me emocionei demais com eles porque, afinal, a palavra ainda está lá. Porém sinto uma saudade imensa de olhar – e até analisar – a letra de quem escreve (seria uma letra nervosa, tremida, apressada, apaixonada?), de sentir o cheiro do papel e, finalmente, do ritual de abrir o envelope com o coração. Sim porque, nessas horas, o coração batia mesmo era na ponta dos dedos.
É isso, caros amigos… Queria compartilhar o fato de ter acordado com saudade de ter o coração na ponta dos dedos. Seria maravilhoso se isso acontecesse, ao menos, uma vez mais.
Recebam meu beijo e meu carinho,
Goimar
Ps: na foto acima, algumas cartas e postais que recebi na adolescência e que guardo comigo até hoje.