Aos 10 anos de idade, uma de minhas redações foi selecionada como a melhor da classe. Nessa ocasião, minha professora Thaís achou por bem gastar uns cinco minutos de sua vida tecendo elogios sobre minha capacidade de contar histórias.
Eu não cabia em mim de felicidade… E jamais vou esquecer a sensação de ver meu texto sendo reproduzido na lousa por uma de minhas amiguinhas (a que tinha a letra mais bonita), de modo que todos pudessem copiar a tal história.
Thaís foi a professora mais doce e também a mais interessada em nos fazer amantes dos livros para sempre. Todos os dias, pedia pra gente guardar o material 15 minutos antes de bater o sinal e se dirigia para porta da classe. Encostava-se ali numa atitude relaxada, abria um livro e nos contava uma história. Simples assim.
Era um momento mágico para todos nós. Grudávamos os olhos nela para melhor absorver seus gestos e reações enquanto narrava fábulas e lendas… Segura de seu método, minha Sherazade tinha sempre a inflexão de voz perfeita para cada personagem e situação descrita nas páginas à sua frente.
Aquelas foram as minhas primeiras viagens literárias uma vez que, por motivos vários, o hábito da leitura não existia em minha casa. Conduzida pela voz de Thaís, visitei florestas encantadas, habitats de fadas, bruxas, gnomos… Fui ao Egito e também ao Oriente Médio. Usei jangadas, trens, estradas, balões. Thaís era assim, não medida esforços para nos mostrar um mundo que transcendia os muros da Escola Estadual de Primeiro Grau Jayme João Olcese, em Cubatão.
Lembro perfeitamente de seu rosto, de seus cabelos cacheados, seu sorriso, seu modo de se vestir. Adorava quando ela vinha de macacão jeans. Combinava perfeitamente com seu estilo pouco formal. Impossível também é esquecer seus olhos grandes e castanhos nos fitando sempre com tanta atenção…
Infelizmente, a vida fez com que eu perdesse de vista a minha professora Thaís. E, provavelmente, ela nem desconfia que ao escolher minha redação e elogiar meus dotes de “contadora de histórias” de modo tão especial, acabou definindo meu destino para sempre… Naquele momento eu soube que passaria a vida escrevendo. Afinal – pensava eu – tudo o que queria era sentir aquela felicidade de novo. A felicidade de se fazer o que ama e, ainda por cima, tocar o coração das pessoas com isso.
Thaís foi a primeira a me apontar o caminho. E sempre terá lugar cativo na minha memória e no meu coração. Neste Dia dos Professores, tudo o que queria era poder dizer isso a ela…