(*A saga da Lua e do Mar é um tema recorrente em minha poesia. Publiquei a primeira versão dessa história neste blog, no mês de março de 2008).

 

O poeta da noite pediu pra eu olhar
A lua altaneira no céu a brilhar
Olhei, refleti e me pus a pensar:
“Que triste essa lua, sozinha, sem mar”.

É pena o destino insistir em negar
O encontro da deusa de branco e seu par.
De certo seriam os mais belos amantes,
Deixando a história do mundo distante.

Num ritmo próprio, bem desconcertante,
Vibrando em acordes agudos, cortantes,
Seriam uma espécie de música nova
Composta de versos, reversos e prosas.

Mas tal qual os grandes relatos de amor,
Desafios diversos a dupla encontrou.
Pois a lua vivia num mundo frustrante
Num reino cercado por grades gigantes…

E o mar, ao contrário, era tão libertário
Seguia os impulsos, amava os corsários
Um dia chegava, invadia, inundava.
No outro? Mistério! Sereno ficava…

Vivia repleto de pérolas várias,
Atraía piratas de capas e espadas
Chamava para dentro de si as sereias
E ainda beijava na praia, a areia…

É primo do sol, da terra, do vento
(mistura mais bela dos quatro elementos!)
É berço e é palco de heróis, viajantes,
Dos aventureiros de vidas errantes

Convida, faceiro, pra um banho salgado
Princesas morenas de corpo delgado,
Com vagas nuances da cor do pecado
Sereias urbanas de canto versado.

E bem lá de cima, a Lua, coitada,
Observa tudo, chorando, calada…
Mudando de fase, alterando a maré
Nervosa se apega ao místico, à fé…

Mais perto de Deus ela sente vontade,
De chamar por Ele e pedir: “Piedade!
Me joga, me lança no fundo do mar.
Não me deixe sozinha, no céu, a brilhar.

De que me adianta ser bela e brilhante
Se tenho um amor que vive distante?
Meu Deus, eu suplico: Me atire no mar,
Nos braços daquele com quem sonho estar!

Não quero mais céu, espaço, cometa.
Não quero astronauta, estrela, planeta!
Eu quero é sentir o abraço do mar
Me entregar às ondas até naufragar

Num abraço abrangente, intenso, feroz
Abraço molhado – retrato de nós!”

Goimar Dantas
São Paulo
18/08/05