Meu rei completa 14 anos hoje e, sinceramente, pra mim ele é “o” cara. Amo vê-lo tocando bateria (instrumento que estudou por mais de três anos), andando de skate, dançando free step… Semana que vem, fará exame de troca de faixa, no karatê, dessa vez para obter a faixa marrom ponta branca. Mas, para isso, terá de passar por cerca de 4 horas de provas, 10 lutas, 500 polichinelos, não sei quantos abdominais e flexões… Meus nervos ficam em frangalhos, mas sei que tudo sempre dá certo no final.
Yuri e eu temos muitas coisas em comum. Já em outras, somos totalmente distintos… E por isso passamos o dia discutindo, argumentando, debatendo, exercitando a oratória. É cansativo, mas sei que isso vai ser importante para o seu futuro. Afinal, estou preparando meu filho para que ele vença, sempre, pela palavra. Pelo discurso. Pela capacidade de expor seu ponto de vista com inteligência.
Meu garoto não se conforma com pouco, tem senso estético apurado, gosta de cozinhar, nadar, lutar karatê, deslizar sobre as rodas do skate e de assistir filmes em que o herói jamais morre no final. Ele acredita que o bem deve vencer sempre – a despeito de saber que na vida real as coisas nem sempre acontecem dessa forma.
Ultimamente, tem deixado a bateria de lado. E isso é um sofrimento pra mim porque adoro quando ele toca e enche nossa casa de música. Tem uma preguiça ancestral quando o tema é estudar. Na sua opinião, melhor seria fazer qualquer outra coisa que exigisse movimento e criatividade. Demonstra interesse por história e ciências, mas nota 10 mesmo ele só concede às artes plásticas (muito diferente de mim, que sempre fui um fiasco nessa disciplina).
Geralmente não gosta dos livros que a escola determina que ele leia. Então, dia desses, resolvi agir de forma mais incisiva: dei a ele contos de Edgar Allan Poe, Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Antônio de Alcântara Machado e Luís Fernando Verissimo. Ele leu e gostou da maioria dos textos; outros, no entanto, achou esquisitos, com final sem graça. Mas o melhor é que elegeu “A menina sem estrela”, de Nelson Rodrigues, como seu preferido.
Eu não havia dito nada, mas naquela leva de textos, aquele também era o meu favorito… E essa escolha diz muito sobre ele. Sobre nós. Coisas como essa me fazem ter ainda mais fé no seu futuro. E, como diz a música: “Meu coração canta feliz”.